MUDANÇA DE RUMO
OBAMA apresenta proposta de orçamento privilegiando o social.
(*) Luiz Salvador
O Presidente Obama dos EUA cumpriu sua primeira proposta de campanha. A mudança de rumo, abandonando a política unilateralista a ser substituída por uma política multilateralista, investindo-se na diplomacia, taxando os ricos, reduzindo-se o déficit trilionário, cortando os impostos dos mais pobres, reformando-se o sistema de saúde, buscando-se melhorar a qualidade da saúde nos Estados Unidos, com a diminuição do número de americanos que não têm seguro-saúde.
Há críticas e elogios dos dois lados. De um lado, os conservadores oposicionistas da proposta criticam a virada de rumos, a maior taxação dos ricos em favor dos menos favorecidos e preparo para a superação da crise e retomada do desenvolvimento.
De outro lado, os elogidos dos que criticavam o modelo que se esgotou com a administração Bush, apoiando a proposta orçamentária de Obama que busca a implantação de um novo modelo, mostrando preocupação inclusive com as necessidades de mudanças na emissão de poluentes na natureza, o que significa conhecimento e preparo para lidar com a mudança climática.
Um dos mais contundentes críticos da política americana é o economista PAUL KRUGMAN que elogia a proposta orçamentária Obama, ressaltando, dentre outras, a intenção de retirada das tropcas americanas do Iraque que implica em uma sangria de mais de US$ 100 bilhões por ano e se Obama tirar os EUA do Iraque e conseguir arquitetar uma recuperação econômica sólida, como mostra pretender, seu intento em redução do déficit para US$ 500 bilhões em 2013 se tornará possível e viável.
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FOLHA DE SÃO PAULO, MUNDO, São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009
Orçamento muda EUA de rumo
Proposta de Obama apresentada rompe com as políticas dos últimos 30 anos e acaba com o temor de que presidente sacrificasse prioridades progressistas por conta da crise
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
ELEIÇÕES TÊM consequências. O Orçamento do presidente Barack Obama representa uma ruptura enorme, não só com as políticas dos últimos oito anos, mas com as tendências políticas dos últimos 30. Se ele conseguir que o Congresso aprove qualquer coisa parecida com o plano anunciado anteontem, terá posto os EUA num rumo novo. Entre outras coisas, o Orçamento será recebido com enorme alívio pelos democratas que começavam a sentir um pouco de depressão pós-eleitoral. O pacote de estímulo econômico que o Congresso aprovou pode ter sido muito fraco e focado em cortes nos impostos. A recusa do governo em endurecer com os bancos pode ter decepcionado. Mas o temor de que Obama pudesse sacrificar as prioridades progressistas em seu Orçamento acabou. Isso porque este Orçamento prevê US$ 634 bilhões em gastos nos próximos dez anos com a reforma da saúde. Não dá para pagar por cobertura universal, mas é um começo impressionante. Em outro front, também é animador ver que o Orçamento projeta US$ 645 bilhões em receita com a venda de autorizações para emitir carbono, o que mostra preparo para lidar com a mudança climática. E essas novas prioridades estão expostas num documento cuja clareza e plausibilidade parecem incríveis a quem se acostumou a ler os Orçamentos de Bush, que insultavam nossa inteligência a cada página. O que temos agora é um Orçamento no qual se pode crer.
Corte no déficit
Muitos perguntarão se Obama poderá realmente reduzir o déficit de US$ 1,75 trilhão neste ano para menos de um terço disso em 2013, como está prometendo. Sim, ele pode. Hoje o déficit é enorme por fatores temporários (ou que esperamos que sejam temporários): um recuo econômico grave vem deprimindo a receita, e grandes montantes precisam ser reservados para o estímulo fiscal e resgates financeiros. Mas, se e quando a crise passar, o quadro deve melhorar. De 2005 a 2007 -nos três anos que antecederam a crise-, o déficit federal foi da ordem média de US$ 243 bilhões por ano. Durante esses anos as receitas estavam inflacionadas, até certo ponto, pela bolha imobiliária. Mas também é verdade que gastávamos mais de US$ 100 bilhões por ano no Iraque. Portanto, se Obama tirar os EUA do Iraque (sem afundar num atoleiro afegão) e conseguir arquitetar uma recuperação econômica sólida - dois "ses" grandes-, reduzir o déficit para US$ 500 bilhões em 2013 não deve ser difícil. Quanto aos juros sobre as dívidas acumuladas nos próximos anos, as taxas são inferiores a 4%, de modo que mesmo US$ 1 trilhão de dívida adicional somará menos de US$ 40 bilhões por ano a déficits futuros. E esses custos já se refletem na proposta orçamentária. Se temos boas prioridades e projeções plausíveis, o que há para não se gostar neste Orçamento? Basicamente, as perspectivas de longo prazo. Segundo as projeções do governo, a razão entre a dívida federal e o PIB vai subir muito até se estabilizar em torno de 60%. Não seria um nível extraordinariamente alto pelos padrões internacionais, mas seria o maior endividamento dos EUA desde os anos imediatamente seguintes à Segunda Guerra. E isso nos deixaria com margem de manobra consideravelmente reduzida caso outra crise se apresentasse. Ademais, o Orçamento Obama trata apenas dos próximos dez anos. Os problemas fiscais realmente graves dos EUA estão mais além desse horizonte: cedo ou tarde vamos ter que encarar as forças que empurram para cima os gastos de longo prazo -sobretudo o custo sempre crescente da saúde. E, mesmo que os custos da reforma fundamental da saúde sejam controlados, eu, pelo menos, acho difícil que o governo federal consiga cumprir suas obrigações de longo prazo sem elevar pelo menos um pouco os impostos sobre a classe média. Mas não culpo Obama por deixar algumas perguntas grandes sem resposta. Há um limite ao pensamento de longo prazo que o sistema político consegue encarar sob uma crise grave. E este Orçamento parece ser muito, muito bom.
Tradução de CLARA ALLAIN
Link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2802200908.htm
(*) Luiz Salvador é Presidente da ABRAT (www.abrat.adv.br), Vice-Presidente da ALAL (www.alal.la), Representante Brasileiro no Depto. de Saúde do Trabalhador da JUTRA (www.jutra.org), assessor jurídico da AEPETRO e da ATIVA, membro integrante do corpo técnico do Diap e Secretário Geral da CNDS do Conselho Federal da OAB, e-mail: luizsalv@terra.com.br, site: www.defesadotrabalhador.com.br
sábado, 28 de fevereiro de 2009
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Amigo Salvador
ResponderExcluirEm verdade, Obama segue os mesmos compromissos e prazos firmados por Bush em 2008, deixando de lado suas promessas de campanha de sair do Iraque em no máximo 16 meses com a retirada de no mínimo uma brigada por mês a partir do primeiro dia de governo.
O plano prevê que até agosto de 2010 devam sair do Iraque de 92.000 a 107.000 soldados ianques seguindo no país um contingente de 35.000 a 50.000 homens até o final de 2011.
Os 50 mil invasores que permanecerão no Iraque ficam com incubência a responsabilidade de “treinar e equipar as forças de segurança iraquianas”.
Até o momento a invasão custou 1 trilhão de dólares, a morte de 4.253 soldados estadunidenses e a de 99.180 civis iraquianos.
Tudo continua como dantes na terra de abrantes, ou, os EUA segue com Obama seus planos de domínio imperial!